Críticas e indicações,  Filmes

In my room (2020), de Mati Diop

Assisti a esse curta certeiro da Mati Diop na condição atual de isolamento, praticando a tradução literal do título In my Room (“em meu quarto”), com vozes mentais rodando em minha cabeça. Lembranças confortam a diretora e atriz nesse estudo poético sobre a ausência da avó e a nostalgia dos nossos. Stalker das janelas alheias de milhares de apartamentos, gaveteiros ocupados nesses tempos estranhos, nada lhe apetece na geladeira. Performances glamourosas da ópera “La Traviata” de saltos altos vermelhos e roupas da MiuMiu, luzes neon no chão: a breve festa exibicionista a ajuda um pouco a driblar o tédio, que retorna em seguida e pede uma garrafa no frigobar.

Foi uma época difícil, mas não éramos infelizes… estávamos em guerra, mas tinha o cinema! (…) Vou esquecer minhas emoções e tentar rir. Tenho que me vestir bem, ir ao cabeleireiro. Rir. Eu consigo!

A consciência da efemeridade, o desespero e a gradual perda de memória da senhora fazem desse filme uma obra difícil de colocar em palavras – “caso contrário não seria um filme”, como Diop escreveu. O que fizemos ao mundo? Estamos em casa sozinhos, mas não estamos sozinhos nessa. Uma janela aberta exibe um pano esvoaçante: “Anda, vamos sair!”, mas apenas uma gaivota voa, livre e sozinha.

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Doutoranda em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG

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